À época de Maria Montessori, o estudo do cérebro era bastante rudimentar. As principais pesquisas eram conduzidas então por fisiologistas, psiquiatras e psicólogos, que contavam com a dedução lógica e com tecnologia “primitiva” para explorar a área.
Porém, o conhecimento empírico adquirido por Maria Montessori nos trouxe evidências sólidas de que a educação experiencial possuía um diferencial bastante evidente em relação a outras metodologias, especialmente quando se tratava de desenvolvimento cognitivo e psicomotor. Montessori desenvolveu um método cujas bases estão perfeitamente alinhadas com a pesquisa atual em neurociência, e através da metodologia montessoriana, educadores são capazes de possibilitar a formação de indivíduos que possam resolver problemas complexos, trabalhar em colaboração e aproveitar a complexidade dos desafios propostos em sua educação para refinar a cognição e a percepção do mundo. Ao serem educadas de acordo com nosso método, as crianças têm a oportunidade de desenvolver totalmente as neuroestruturas subjacentes de seu cérebro.
Nesse sentido, as mãos são importantíssimas, e o cérebro as percebe como o principal receptor do corpo para a entrada de estímulos sensoriais. Elas respondem por uma imensa parte da construção de sequências sensoriais motoras que são a base de tudo o que fazemos, e a melhor forma de estimulá-las é utilizando-as.
O Método Montessori privilegia o trabalho corporal, especificamente o manual, acima de outros pontos de interesse, pois entende as mãos como mecanismos para receber informações sensoriais, sendo a parte do corpo mais valiosa para o aprendizado. A prática é como nossos cérebros se constroem. É isso que o Método Montessori faz.
Tudo o que o educador montessoriano oferece à criança em termos de habilidades motoras, auto-regulação, linguagem, matemática e percepção sensorial é apresentado de forma individual e sequencial, com base em conhecimentos prévios e padrões sensoriais anteriores. Sempre começamos manipulando materiais concretos. Uma vez que o concreto está bem absorvido e se torna familiar, partimos para o abstrato e o simbólico (daí a importância de separar a realidade da fantasia, como já vimos em outras postagens).
É assim que desenvolvemos o cérebro. A metodologia montessoriana se baseia em interações experimentais de tentativa e erro, inseridas em um contexto próximo ao do meio ambiente. Isso é o que acontece em no ambiente preparado, todos os dias. É o que permite que nossos alunos obtenham um tremendo sucesso no que quer que se proponham a fazer, pois estamos engajados em formar pessoas verdadeiramente inteligentes, uma vez que a melhor definição de inteligência é a capacidade de construir novos "circuitos" sensoriais e motores, que nos capacitam a solucionar uma gama cada vez mais variada de situações.
Resumidamente, trata-se de respeitar a concentração. As crianças querem, por natureza, explorar, tocar e se engajar em certos tipos de trabalho ou projetos. Em várias partes de sua jornada de desenvolvimento, elas são atraídas por coisas diferentes. A natureza fez com que se dedicassem intensamente à repetição. De alguma forma, eles sabem que precisam praticar sucessivas vezes.
O que descobrimos através da moderna neurociência, é que ao fazer isso nossos filhos estão desenvolvendo o neocórtex, alicerce fundamental para o pensamento futuro. Por meio de sofisticados aparelhos capazes de medir a atividade cerebral, constatamos acima de qualquer questionamento que quando a criança está trabalhando ativamente e se concentrando, está - literalmente - construindo seu cérebro.
Quando isso está acontecendo, não há nada que possamos ou devamos fazer. Nosso dever é observar, sabendo que trabalho concentrado é sinônimo de desenvolvimento cerebral, e que uma cognição bem desenvolvida faz a diferença na aquisição de uma vida adulta bem sucedida, plena e feliz.