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Montessori e autonomia

Montessori

Vivemos em um tempo no qual os maiores valores para um adulto parecem ser a independência e a autonomia. A individualidade é tão valorizada que, muitas vezes, acaba mesmo beirando o individualismo. Todos os dias, lemos dezenas de textos em redes sociais elogiando pessoas independentes, bem resolvidas e autônomas, que têm nas mãos o controle de suas próprias vidas. Também nos deparamos, claro, com as queixas constantes dos que não conseguem, por um motivo ou por outros, a tão sonhada liberdade individual, a vida autônoma e o desprendimento dos laços de depend&ecir c;ncia, sejam quais forem. Estes últimos sempre parecem não compreender o motivo por trás de suas dificuldades, assim como os primeiros raramente estão cientes da razão de seu sucesso. 

Como sempre - ou quase sempre - a causa, tanto da independência e da autonomia quanto da falta delas, está na infância. Adultos bem sucedidos foram, na imensa maioria das vezes, crianças educadas para a autonomia. Aqueles que não se deram tão bem assim era, via de regra, crianças cuja autonomia não era uma prioridade para as famílias. Comparemos os números, e com certeza chegaremos à conclusão de que os indivíduos realmente autônomos em nossa sociedade são uma minoria. O que isso quer dizer?

De forma geral, o fato de que a maioria dos cidadãos das sociedades urbanas contemporâneas não consegue exercer uma existência autônoma e independente - enfrentando uma série de dificuldades sociais por isso - pode ser explicado por meio de uma contradição: apesar de desejarmos a autonomia, a maioria de nós reluta em oferecer às crianças a chance de conquistá-la. O que resulta em adultos pouco preparados para os desafios do dia a dia. Geralmente, a negação da autonomia infantil se dá por dois motivos. O primeiro se refere á percep&cce dil;&ati lde;o da independência e da autonomia infantis como “falta de disciplina”, “desapego pelas regras”, “petulância”, e outros tantos nomes pelos quais identificamos no livre agir e no livre pensar um risco para a “ordem”. No segundo caso, está a superproteção, a ideia de que crianças são naturalmente inferiores em termos de cognição, e de que devemos fazer por elas, ao invés de capacitá-las a fazerem por si mesmas.

Ambos os casos encontram grande oposição na filosofia e metodologia montessorianas: longe de considerar a autonomia como indisciplina e risco para a ordem, acreditamos que só pode haver uma real ordem social em um ambiente composto por pessoas autônomas. Uma vez que desenvolvemos a autonomia de fato, não é preciso que nos despejem regras e que nos lembrem a todo momento de nossas obrigações: ser autônomo é ser, antes de tudo, responsável e ciente das relações de causa e efeito. Se fazemos algo impensado, certamente sofreremos as consequências, que vã ;o muito além de simples castigos ou restrições no mundo adulto. Em relação à suposta “inferioridade” infantil, não há nada mais longe da realidade. A ciência moderna demonstra que crianças podem (e devem) fazer muito mais, com muito menos supervisão e longe da superproteção familiar. 

Assim, o Método Montessori pode ser de grande ajuda quando o assunto é criar cidadãos conscientes de sua individualidade e que saibam agir com racionalidade e independência diante das mais variadas situações. Em resumo, optar pela educação montessoriana é buscar para nossos filhos aquilo que mais almejamos para nós mesmos. O sucesso em nossa sociedade está intimamente ligado ao “fazer por si mesmo”. E é exatamente isso que ensinamos em Montessori, desde os primeiros anos da Educação Infantil até as últimas etapas do Ensi no M&eac ute;dio. 

Trata-se de aplicar a máxima de Maria Montessori, que diz “Ensine a criança a fazer por si mesma”. Crianças ensinadas a fazer por si se tornam adultos autoconfiantes, desenvoltos e capazes de se adaptar à variados ambientes e situações. Em nossa escola, buscamos desenvolver a autonomia que chega à criança através da liberdade disciplinada, uma vez que  liberdade sem disciplina é um grave equívoco cujos efeitos nefastos são sentidos até na fase adulta. Buscamos conscientizar a criança a respeito da vida, da rotina, dos cuidado co m o corp o e com a mente, da relação com a natureza e com o mundo, respeitando seu tempo de aprendizado e valorizando suas iniciativas.

Mas o esforço dos educadores, por maior que seja sua qualidade e dedicação, não basta para conferir a autonomia plena aos futuros cidadãos. As famílias da comunidade escolar também possuem papel determinante nesse processo. 

Em primeiro lugar, é preciso que estejam conscientes do Método que escolheram, e que busquem compreender seu funcionamento, procurando a escola sempre que existir alguma dúvida. Questionar é sempre algo positivo, mas é preciso levar os questionamentos a quem possa respondê-los de forma adequada, ou seja, aos profissionais do ensino. Assim, se você ou algum familiar possui dúvidas sobre o desenvolvimento da autonomia infantil, não hesite em nos procurar, pois será sempre um prazer tê-los conosco.

Em segundo lugar, deve-se dar a devida continuidade ao Método no lar. Uma vez que se saiba que a autonomia não significa desobediência ou indisciplina - pelo contrário, denota uma conscientização por parte da criança em relação a si mesma e ao mundo que a rodeia - é preciso incentivar corretamente, respeitando e estimulando a iniciativa e valorizando a tentativa. Uma criança que é incentivada em suas iniciativas, cujas tentativas são valorizadas, é uma criança equilibrada emocional e cognitivamente.

Para tanto, é preciso deixar que a criança faça escolhas, permitir que realize as tarefas que lhe são possíveis e respeitá-la em seu tempo de aprendizado, evitando resolver problemas e responder perguntas por ela. E acima de tudo, demonstrar as consequências de cada escolha, deixando que a criança as vivencie e aprenda com elas. 

Desta forma, por meio de uma relação saudável entre a escola e a família e da compreensão dos conceitos de independência e liberdade em seu significado mais profundo, somos capazes de oferecer aos que construirão o futuro aquilo que nós mesmos tanto desejamos, e poderemos ter a certeza de que as gerações que nos sucederão terão plena capacidade para transformar o mundo, fazendo dele um lugar melhor e mais justo.