Durante muito tempo, a adaptação escolar foi vista em nosso país como um momento necessariamente difícil, e a crença geral era de que seria necessária uma adaptação “forçada” ou “disruptiva”. A eficácia destes métodos seria “comprovada” empiricamente: de fato, as crianças se adaptavam ao novo ambiente, e após alguns meses estavam integradas à escola. Contudo, o período de adaptação mediado desta forma é estressante para os pequenos, resultando em crises de choro, aversão ao convívio com colegas e professores e até mesmo quedas na imunidade infantil. Pior: a longo prazo, esse tipo de adaptação pode provocar traumas em relação ao ambiente escolar, que podem acompanhar pessoas por muito tempo, prejudicando o convívio social e o progresso acadêmico e profissional.
Em Montessori, ao contrário, a adaptação disruptiva e a adaptação forçada não são utilizadas. Acreditamos que é preciso levar em conta as emoções e sentimentos da criança, suas experiências anteriores e - especialmente - sua individualidade.
Como educadores montessorianos, compreendemos que existe uma variedade de situações relacionadas à adaptação escolar. Dentre as principais estão:
1 - Os alunos que estão trocando de escola
Estes precisam se adaptar não apenas ao novo ambiente, mas à nova metodologia, e devem ter alinhadas suas experiências anteriores com a nova proposta pedagógica. Estas crianças precisam se familiarizar com o não intervencionismo dos professores, os materiais e aos demais recursos que fazem parte do ensino montessoriano.
2 - Crianças que nunca frequentaram a escola
Para a criança que nunca foi à escola, e que está saindo do ambiente familiar pela primeira vez, tudo é novidade. E como sabemos, o novo pode assustar à primeira vista. O processo de acolhimento, nesse caso, irá visar especialmente a minimização do impacto da separação entre a criança e seus pais ou sua casa. É preciso lidar com a ansiedade causada por esta ruptura de forma gentil e natural, respeitando o tempo de cada um.
3 - A criança que está mudando de turma
Como sempre ressaltamos, a adaptação não é apenas para os novos alunos. Crianças que já frequentam a escola, mas que estão mudando de turma, também precisam de atenção especial para interagir com desenvoltura com novos colegas e professores. Ainda que seja mais simples, esta “re-adaptação” também é de suma importância.
É preciso destacar que para os recém-chegados, a escola é um universo estranho: um espaço coletivo e compartilhado com o “outro”. O estranhamento é natural, e a adaptação tomará tempos diversos, dependendo de fatores anteriores ao ingresso no ambiente escolar. Estes fatores, ligados à família e ao lar, variam imensamente de criança para criança. Assim, embora tenhamos a certeza de que todas irão se adaptar, o tempo necessário para começar a vivenciar descobertas, aventuras e aprendizados irá variar muito: pode ser uma questão de horas ou dias para alguns, e de semanas e até meses para outros.
Seja qual for a duração do período de adaptação, algumas estratégias adotadas por nossos educadores ajudam a reduzir o estresse da adaptação e minimizam o impacto de um ambiente desconhecido para as crianças. Uma das mais eficientes ações para mitigar o choque da quebra de rotina reside justamente na adoção do Agrupamento Montessori.
O agrupamento ajuda não apenas na aquisição de conhecimentos e habilidades por meio da interação e da troca de conhecimentos e experiências entre alunos, mas também no reconhecimento do novo espaço e na normalização do convívio. Estar junto de crianças que já conhecem a rotina escolar e estão familiarizadas com a metodologia e o entorno aumenta a segurança e a desenvoltura dos novos alunos. Também existem, claro, outras medidas utilizadas pela metodologia montessoriana em termos de acolhimento para novos alunos, como:
Reuniões com as famílias, que visam apresentar o Método e introduzir conceitos básicos da filosofia montessoriana, que podem ser aplicados em casa para ajudar a criança a se familiarizar com a rotina escolar.
Flexibilidade de horários para novos alunos, caso precisem de menos tempo na escola enquanto se adaptam, para que a criança compreenda gradativamente a rotina escolar
Possibilidade de permanência de um familiar na escola nos primeiros dias, por um curto período de tempo, o que auxilia no ganho gradativo de confiança.
Atividades ao ar livre e liberdade de escolha de materiais, reforçando a natureza lúdica do aprendizado, o que ajuda a formar vínculos com os profissionais da escola e colegas.
É também fundamental que exista cooperação entre a escola e a família - que formam uma só comunidade - pois o esforço conjunto irá garantir que criança se sinta bem-vinda e amparada no novo ambiente e construa confiança em relação aos professores e aos demais alunos.
Assim, longe de ser um problema, o período de adaptação é uma oportunidade de crescimento para as crianças, desde que respeitemos o tempo de cada um, para que todos se acolhidos e seguros nesse novo ambiente. Nossos esforços no período de adaptação são direcionados nesse sentido, e com a participação constante das famílias, somos capazes de fazer com que os alunos se sintam compreendidos em suas particularidades e tenham suas necessidades atendidas. Uma coisa é certa: não importa o tempo, todos irão se adaptar, e a escola será, para todos, um lugar cheio de vivências e lembranças que farão a diferença durante toda a vida.
