Sempre que falamos sobre o Método Montessori, a maioria das pessoas imediatamente associa a metodologia com os períodos de aulas, nos quais os pilares do método, a conduta dos profissionais, os materiais e os objetivos de uma educação voltada para a cultura da paz e para o desenvolvimento da independência se mostram em destaque, e os resultados atingidos pelas crianças em termos cognitivos ficam bastante evidentes nas atividades diárias.
Porém, existe um outro momento no qual o Método “brilha”. Nele, apesar de menos evidente, o esforço do educador montessoriano se revela de modo completo para todos os que convivem com a criança. Estamos falando das férias escolares, tão associadas ao “descanso” e a uma “folga” das atividades educativas. Nas férias, pouquíssimas pessoas prestam atenção a resultados pedagógicos e à aquisição de novas habilidades motoras e cognitivas. Mas é justamente quando os pequenos estão se divertindo e aproveitando seu merecido descanso que podemos observar os grandes saltos de aprendizado. Basta prestar atenção, e, claro, seguir estimulando-os e incentivando suas conquistas.
Mas como fazer das férias um momento no qual o aprendizado possa seguir ocorrendo, mesmo longe da escola? De acordo com a metodologia montessoriana - como sempre repetimos por aqui - o grande impulsionador do aprendizado é o mundo. Tudo o que fazemos quando aplicamos o Método é reproduzir, de forma controlada e direcionada às diferentes faixas etárias, os desafios presentes na natureza. Montessori desenvolveu uma pedagogia que se baseia na experiência primordial de aprendizado por meio da descoberta e da curiosidade. Uma metodologia de ensino que valoriza e se pauta na criança e em sua relação com o ambiente. De forma que mesmo durante as férias temos uma plenitude de ferramentas de ensino muito eficazes - e fáceis de utilizar.
Esta facilidade se deve ao simples fato de que sequer precisamos encará-las como instrumentos pedagógicos, mas tão somente como brincadeiras. As férias são uma situação na qual o aprendizado segue ocorrendo, e é até mesmo impulsionado pelos momentos de descanso e pela ausência de compromissos. Sabemos que tanto o corpo quando a mente humana precisam de pausas para se desenvolver. A ciência atesta que o descanso é tão importante quanto o trabalho, e com as crianças não é diferente.
Contudo, não se trata de qualquer tipo de descanso e lazer. Muitas das atividades que hoje consideramos como prazerosas para nossos filhos, como por exemplo os jogos eletrônicos, o uso de tablets e smartphones e as horas passadas em frente à TV, simplesmente não podem ser consideradas como um descanso, do ponto de vista cognitivo. As telas, como se sabe, super-estimulam os sentidos e exigem níveis de concentração e atenção tão grandes - ou até maiores - que os necessários para os momentos de estudo e trabalho. Assim, não são uma boa opção.
Também é preciso destacar que a rotina, apesar de muito importante para a criança, não precisa ser mantida rigorosamente durante os períodos sem aulas: é muito positivo que existam mudanças nesses momentos. Tanto nas atividades cotidianas quanto no próprio ambiente no qual a criança está. Por isso, sempre que tivermos a oportunidade, devemos apresentar novos lugares e situações aos pequenos, para que possam explorar, descobrir e criar novas soluções para os desafios encontrados, exercitando sua curiosidade inata a todo momento.
E por falar em novos lugares, chegamos a um ponto importantíssimo: para Montessori, o melhor lugar para aprender é aquele que esteja o mais próximo possível do meio natural. Os parques, as praias, os bosques, as serras, os campos e as montanhas, são ambientes ideias para a criança. O contato das mãos com a areia da praia, os pés na terra, o cheiro do mato, os encontros com pássaros, insetos e pequenos animais são lições tão valiosas quanto qualquer atividade direcionada feita na escola.
Podemos, nesses momentos e lugares, educar de forma sutil, quase imperceptível, mas não menos eficiente. A natureza possui muito mais cores que a mais completa caixa de crayons; nela, há mais sons que em qualquer coleção de música infantil, mais aromas que na mais completa perfumaria. Tantas texturas e sabores a serem experimentados, tantas proezas a serem tentadas: árvores para escalar, ondas para pular, trilhas para percorrer… na natureza temos tudo o que é preciso para um desenvolvimento infantil completo e excelente. A oportunidade de estar junto a ela é inestimável, e representa um salto qualitativo para a criança urbana, acostumada com pequenas reproduções do mundo natural, destinadas a dar a ela uma amostra da dimensão absoluta do mundo natural.
De forma que a resposta às famílias que se questionam sobre a continuidade do ensino montessoriano nas férias é bastante simples e reconfortante: para continuar obtendo os benefícios de nossa metodologia, basta permitir que, nas férias, a criança possa ser criança, em toda sua plenitude.
Que todos as famílias de nossa comunidade escolar tenham boas férias, repletas de brincadeiras, descanso, amor e companheirismo - e se possível, tudo isso bem pertinho da natureza!
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