O ensino montessoriano é, por excelência, uma pedagogia que busca resgatar e valorizar a natureza humana primordial. Acreditamos que esta natureza seja muito distante da disputa, da animosidade, da competição e da “guerra de todos contra todos”, valores tão nocivos e tão presentes em uma sociedade como a nossa, que valoriza o individual acima de todas as coisas, e tão frequentemente se esquece do coletivo.
Acreditamos que todos nós, seres humanos, somos iguais em direitos e oportunidades, e a desigualdade é algo que deve ser combatido a todo custo. Também sabemos, entretanto, que os valores da sociedade atual são fruto de uma cultura que levou séculos para se desenvolver e se estabelecer. E como educadores, sabemos que cultura se forja no ensino. Assim como as mudanças culturais.
Assim, a única forma de mudar o mundo se dá por meio da mudança cultural. Reconhecemos que a imensa maioria de nós, adultos, está tão imersa em suas rotinas e problemas cotidianos que acaba se tornando difícil encontrar tempo para refletir, para pensar nas questões que devem ser observadas para trazer a mudança. Mas com as crianças é bem diferente. Elas possuem ainda acesa a centelha capaz de acender os lumes da empatia e da solidariedade. Mantê-la viva é responsabilidade de quem educa, se o que se quer é transformar a sociedade.
A transformação que queremos virá pela empatia. E a empatia é fruto do conhecimento do outro, da compreensão de que há tantos que vivem em condições muito distantes das que sabemos serem ideais. Nossas crianças detêm grandes privilégios, que deveriam ser direitos. Todos os pequenos deveriam ter as mesmas oportunidades que a vida oferece a nossos alunos, e é preciso que eles saibam disso, desde a mais tenra infância.
Para tanto, não há nada mais efetivo que colocá-los em contato com outras crianças, seus iguais, que dividem com eles a curiosidade, o desejo de aprender, o gosto pela descoberta, mas que vivem outras realidades, que precisam ser conhecidas. Por isso, todos os anos promovemos o convívio entre crianças de realidades tão distintas, para que se percebam, se conheçam e se reconheçam como o que são: seres humanos merecedores de direitos e condições necessárias para uma vida plena.
A decisão de receber crianças de outros entornos sociais em nossa escola contempla nossa crença na solidariedade e nosso desejo de transformação, valores que dividimos com as famílias que fazem parte de nossa comunidade e com nossos alunos. Assim, as visitas que receberemos na próxima semana possuem uma importância única, não só para as crianças visitantes, mas também para nossos pequenos. Não se trata de uma simples atividade, mas de uma grande celebração:
Uma celebração da solidariedade, da empatia, da igualdade e da fraternidade em seu sentido mais puro e mais belo. Na próxima semana, não haverá distinções entre os pequenos. Eles brincarão e conviverão como iguais. Serão crianças, vivendo a magia e o encanto da infância, lado a lado.
