O início do segundo semestre, a readaptação dos alunos e a volta às aulas, podem trazer consigo certas questões comuns no ambiente escolar, como a troca de alguns profissionais, o estranhamento em relação aos novos conteúdos e pequenos conflitos entre alunos. Estes conflitos são bastante naturais e fazem parte da rotina, sendo importantes para o desenvolvimento da maturidade emocional das crianças. Porém, muitas vezes as famílias tendem a enxergar tais situações sob uma perspectiva mais ameaçadora (o que é perfeitamente natural), e se vêem confusas quanto à melhor forma de solucioná-las. Assim, é natural que busquem alternativas, como por exemplo, a troca de experiências com outras famílias, que hoje acontece principalmente por meio de grupos de mensagens.
Como já dissemos anteriormente, nossa escola reconhece e até mesmo incentiva a existência destes grupos, já que eles servem a variados propósitos, a maioria dos quais impactam de forma positiva a convivência da comunidade escolar. Através dos grupos, as famílias combinam passeios, trocam dicas culturais, compartilham suas rotinas, etc. Sem dúvida, esta é uma forma excelente de estreitar laços e fortalecer o senso de pertencimento. Mas grupos de mensagens não são uma boa saída quando existe a necessidade de solucionar conflitos ocorridos no ambiente escolar. Para isso, a melhor opção, de acordo com a ciência, é a mediação dos conflitos no ambiente em que eles ocorrem.
A mediação é um método de resolução de conflitos no qual um mediador imparcial e neutro facilita a comunicação na busca de uma solução para o problema. É um processo flexível e pode ser adaptado às necessidades específicas de cada situação, e uma ótima ferramenta para melhorar a convivência na comunidade escolar, causando inclusive benefícios sociais e cognitivos importantes. A psicóloga argentina Silvia Iungman, especialista em mediação de conflitos e autora de diversos artigos sobre o tema, elenca alguns benefícios das mediações positivas nos conflitos em seu livro “La mediación escolar”:
Constrói um sentido mais forte de cooperação e comunidade com a escola;
Melhora o ambiente na aula por meio da diminuição da tensão e da hostilidade.
Desenvolve o pensamento crítico e habilidades para a solução de problemas;
Melhora as relações entre os estudantes e os professores;
Aumenta a participação dos alunos e desenvolver habilidades de liderança;
Resolve as disputas menores que interferem no processo de educação;
Favorece o aumento da autoestima de todos os membros da comunidade escolar;
Facilita a comunicação e as habilidades para a vida cotidiana.
Além disso, solucionar conflitos entre alunos por meio da intervenção do educador ajuda inclusive no processo de vivência democrática, o que prepara para a vida fora da escola, na qual a pluralidade é uma constante e a divergência é tão comum. Aqui, no Novo alicerce, todos os profissionais são capacitados para mediar conflitos, pois aplicam uma metodologia que preza pelo desenvolvimento de uma cultura da paz, que estimula a resolução pacífica, embasada nas vantagens e benefícios da implementação da educação para a paz, tão cara à Maria Montessori, em seu dia a dia.
Assim, quando as famílias optam por deixar que os conflitos se resolvam na escola - e quando nos procuram para solucioná-los - estão fazendo um grande bem a seus filhos, uma vez que a psicologia e a neurociência comprovam, com amplas evidências, que alunos que participam da mediação escolar apresentam uma melhora na sua consciência individual e social, desenvolvendo melhor a comunicação, a escuta e a empatia. Além disso, a mediação ajuda a criança a compreender as adversidades e desafios da vida, a lidar com as diferenças, a saber ouvir pontos de vista e levá-los em consideração. É claro que a família tem um papel importante, podendo e devendo participar ativamente das questões relacionadas a seus filhos, mas é fundament al que a comunidade e scolar saiba, como um todo, gerir os conflitos de uma forma mais eficiente.
Assim, quando pedimos aos familiares para que não utilizem grupos de mensagens com o objetivo de debater e procurar soluções para conflitos surgidos na escola, não estamos desestimulando o debate ou a aproximação entre famílias. Ao contrário, estamos fortalecendo o caráter pedagógico da mediação de conflitos na forma como a adotamos, ensinando a empatia, o respeito, a autonomia e a independência. E recomendamos que as famílias, em seus lares, procurem sempre utilizar a mediação e a comunicação não violenta, em qualquer situação. Pois seja na resolução de questões familiares, problemas entre alunos, alunos e professores, pais e professores, casos de indisciplina ou bullying, as ferramentas e dinâmic as de mediação estabelecem um processo que ajuda a construir soluções através do diálogo, fortalece vínculos existentes e criando outros, completamente novos.
Por isso, antes de buscar qualquer outra solução para os conflitos ocorridos no ambiente escolar, as famílias devem procurar a própria escola. Sempre estaremos de portas abertas para receber a todos, dispostos a detalhar os procedimentos utilizados para a mediação, abertos à críticas e sugestões. Pois como escola plural, diversa e democrática, sabemos que ouvir os membros de nossa comunidade é o alicerce para a construção de um relacionamento construtivo para todas as partes.
