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O tempo da criança: como e porquê respeitá-lo

Montessori

“Montessori segue os caminhos da Natureza” -  E.M. Standing

A natureza não segue o tempo dos seres humanos, mas sim um tempo próprio, baseado não nas agendas lotadas, tarefas que se acumulam e compromissos intermináveis. Este é o nosso tempo, criação humana. A este tempo, o tempo prático, o tempo dos adultos, os gregos antigos chamaram “Khrónos” tempo fisico, que pode ser medido, com um princípio e um fim. Ao tempo da natureza - e das crianças -  chamaram Aíôn: o tempo sagrado e eterno, cíclico e imensurável. 

É neste segundo tempo - misterioso e perdido para a maioria dos adultos -  que se dá a existência infantil. De acordo com especialistas em cognição humana, como o Dr. Steve Hughes, o tempo da criança é outro, bem diferente e, necessariamente, bem mais elástico que o nosso. Para a criança, minutos podem ser extremamente longos quando estão esperando por algo ou podem passar num piscar de olhos se estão entretidos em uma atividade de seu interesse. Nossa convenção lógica de que um minuto é composto por 60 segundos simplesmente não se aplica à compreensão infantil do tempo. Para os pequenos, ele está muito mais ligado à experiência e ao que se pode vivenciar dentro de determinado intervalo que ao relógio. Para a criança o mais importante não é a ação em si ou o destino final e sim a experiência, o percurso. 

Quantas vezes não achamos graça quando uma criança pequena confunde o amanhã com o ontem, ou usa medidas absurdas para relatar quanto tempo passou entre um momento e outro? Talvez, se voltarmos nosso olhar para a forma como a criança vivencia suas atividades, isso não nos pareça tão absurdo assim. Não se procurarmos compreender o tempo da criança. 

Nossas rotinas, após a adolescência, costumam ser bastante semelhantes e previsíveis. Isso acontece pois lidamos, em nosso dia a dia, com variáveis muito conhecidas, e somos expostos a poucas novidades. É claro que vemos muitas coisas diferentes em relação à forma, mas o conteúdo, durante a vida adulta, tende a ser sempre o mesmo, com muito pouca variação. Já as crianças… Estas são seres em formação, e desde seu nascimento precisam adaptar-se a uma avalanche de novidades diárias. E para o cérebro em desenvolvimento processar adequadamente tudo isso, é preciso que existam momentos sem estímulos.

Conforme cresce, a criança aguça a curiosidade e têm sua própria noção do tempo. Até o final da primeira infância (e além), é difícil lidar com a noção de quantidade, e por consequência, quantificar o tempo. Isso ocorre pois a vivência do tempo natural é, como demonstra a física, relativa. Crianças possuem a vontade inata de descobrir, experimentar: ouvir um barulho novo, observar um inseto entre as folhas do jardim, tudo isso são coisas que exigem concentração, calma. E tudo o que não se pode fazer nesses momentos é ceder à nossa pressa, exigir que o nosso tempo seja partilhado pelas crianças. Ser interrompido, ainda mais no momento em que se criam milhares de conexões neurais, é frustrante.

Assim, é inútil evocar nosso tempo, nossos compromissos, nossa visão de mundo, quando tratamos com crianças. Não faz sentido que andemos irritados com os “dois minutos de atraso”, ou com o “horário de pico” no trânsito, e tentemos transferir aos nossos filhos toda essa pressa e irritação, como se dividíssemos com eles responsabilidades que simplesmente não lhes fazem sentido. A responsabilidade sobre o tempo da criança é nossa e não dela.

Por estar desenvolvendo suas habilidades motoras e cognitivas, criança leva mais tempo para escovar os dentes, organizar objetos ou vestir-se. Leva tempo para entender novas informações, absorver novas rotinas. Mas temos o hábito de ensinar a criança a acompanhar nosso ritmo, quando na realidade, nós é que deveríamos nos esforçar para nos adaptarmos ao ritmo infantil. Crianças que são obrigadas a acompanhar o tempo adulto se tornam ansiosas precocemente, e acabam por desenvolver dificuldades de concentração, tornando-se irritadas e inconstantes. Já quando têm seu tempo respeitado, a ansiedade desaparece, e toda a família experimenta uma rotina mais harmônica e fluida. Assim, ao nos apoderarmos da noção de que existem dois tempos diversos, o nosso e o infantil, a resposta para o grande questionamento dos pais contemporâneos - como administrar o tempo com e para os filhos - se torna simples, desde que estejamos realmente interessados em viver com qualidade e dar oportunidade de uma vida plena aos pequenos . Para tanto, respeito é a palavra chave:

Não há um  manual ou uma receita para respeitar o tempo da criança. Afinal, cada rotina é uma rotina. Mas existem algumas atitudes que servem para qualquer situação, e observá-las pode fazer a diferença entre um dia a dia atribulado e uma convivência familiar harmoniosa.

- Respeite o ritmo da criança. Ela precisa de mais tempo que nós, e isso é um fato. Observe o ritmo do seu filho, e só a partir disso estabeleça os horários de uma rotina.

- Não crie uma agenda impossível. Tenha em mente que quanto mais atividades direcionadas e escolhidas pelos adultos uma criança realizar, mais ansiosa, estressada e agressiva ela será. Menos atividade não significa uma criança menos capaz. Já uma agenda adequada, com menos compromissos e mais qualidade em suas atividades fará com que a criança seja capaz de viver cada momento de forma plena, e identificar o que é ou não importante.

- Respeite a necessidade de reflexão, o tempo de descanso. Não sobrecarregue nem se deixe sobrecarregar. Tenha em mente que ninguém aprende nada estando exausto. 

- Procure adaptar-se ao tempo infantil. Pense sua vida social como a de alguém que é responsável pela criação de um ser humano cheio de potenciais.

- Valorize o ócio, deixe que o sono venha e se vá naturalmente.

- Programe menos, ouça mais. Pense naquele velho ditado clichê: dê tempo ao tempo. Dê tempo à criança.  Para brincar, entender, descobrir, pensar em seu próprio ritmo. E aproveite esse tempo para se dar tempo. Respire fundo, perceba o mundo, siga seu ritmo. Dê a si mesmo a oportunidade de viver, ao invés de ser levado pela vida. Procure ver pelos olhos da criança, cuja vida transborda e encanta. Você, assim como ela, precisa de tempo para imaginar, descobrir, prestar atenção ao encanto do mundo, que tantas vezes nos passa despercebido.

 

O presente mais valioso que podemos dar aos nossos filhos não é o bem material. Não é o brinquedo caro, a viagem dos sonhos. O maior presente que podemos oferecer a uma criança é nossa presença, nosso carinho, nossa atenção. Em suma, nosso bem mais precioso: nosso tempo.

 

 

 

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