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Infância líquida: a criança na era contemporânea

Montessori

Um dos autores mais lidos da última década, o sociólogo Zingmunt Bauman tornou-se muito popular por descrever o cotidiano da humanidade contemporânea e as novas relações sociais em seu livro Modernidade Líquida. O título inspirou inclusive o termo, bastante conhecido hoje em dia “relações líquidas”, que descreve precisamente o modo como vivemos e nos relacionamos atualmente. Bauman defende a ideia de que se em tempos idos o grande problema das relações humanas e seus arranjos sociais era a falta de liberdade, hoje ocorre o oposto: somos oprimidos pelo excesso de liberdade. Isso porque passamos, com o advento das novas tecnologias de comunicação, a desenvolver cada vez mais a ideia - presente desde finais do século 19 - de que liberdade é sinônimo não apenas de individualidade, mas de individualismo. Assim, para a liberdade tão almejada por nossos antepassados que viviam sob regimes tirânicos se tornou, para nós, um fardo: na sociedade de hoje nós não mais sofremos pela falta de liberdade, mas pelo excesso. Seguimos, em nossas relações, o ritmo frenético da vida virtual. E nossa vida afetiva se torna um simulacro do que fazemos em rede. Para experimentarmos a total liberdade, nos tornamos solitários, pois substituímos os laços duradouros (que exigem desafios constantes para entender o outro e a nós mesmos), por interações momentâneas e de fácil manutenção. Se o outro me desagrada, basta excluí-lo, bloqueá-lo, “deixar de segui-lo”. É claro que isso não nos traz plenitude, mas satisfaz nossa necessidade momentânea, e assim vivemos, montando um grande quebra cabeça de momentos fugazes, que impingimos a nós mesmos como sendo “felicidade”.

 

Nem é preciso dizer que isso tem transformado jovens e adultos em pessoas muito mais fechadas, retraídas e “difíceis” de se lidar no mundo real, em uma clara oposição às personalidades virtuais sempre alegres, bem humoradas e bem dispostas. Isso acaba por criar uma dicotomia entre o que somos e o que pensamos ser, e resulta em contradições com as quais simplesmente não podemos lidar, o que leva à desordens do afeto, ansiedade, depressão e compulsões diversas. Como adultos, conseguimos - ou ao menos pensamos conseguir - lidar com isso de maneira mais ou menos saudável, sem que a convivência cada vez mais escassa e a individualidade tão exacerbada terminem por nos paralisar de todo. Seguimos nossas vidas, muitas vezes cheias de neuroses, e vivemos nossas rotinas como podemos. Temos, afinal, capacidade, ainda que mínima, para “suportar” o cotidiano cada vez mais intenso e opressivo, que não permite o descanso, o ócio, e torna até mesmo o lazer uma obrigação social da qual não podemos nos furtar.

 

Mas e nossas crianças? Como elas lidam com o novo paradigma sócio cultural, no qual estão inseridas desde o nascimento? Muitos dirão que é natural que nossos filhos tenham de vivenciar esse dia a dia sufocante, e que eles mesmos lidam com isso melhor que nós, uma vez que não conhecem outra realidade. Porém, existem motivos de sobra para acreditar que, na verdade, o mundo contemporâneo prejudica muito mais aos pequenos que nós: estaria, assim, a criança do século 21 vivendo uma “infância líquida”?

 

Ao que parece, caminhamos cada vez mais para isso. Com o agravante de que, para a criança, relações líquidas são algo extremamente prejudicial, muito, mas muito além do prejuízo que causam a um adulto. Isso se deve à própria dinâmica de aprendizado dos pequenos, projetada pela evolução para ser completamente diferente daquilo que vemos hoje. Crianças simplesmente não possuem os meios cognitivos para lidar com um mundo superficial e com relacionamento descartáveis. Em 300 mil anos de evolução, as crianças humanas foram programadas pela natureza para estabelecer vínculos afetivos duradouros, vivenciar rotinas estáveis e viver em ambientes que pouco mudam, além de, claro, aprender a partir de experiências reais, e não de simulacros ou simulações da realidade. E pior: a criança não pode lidar com o fato de que, para os adultos inseridos no mundo atual, ela é, na maioria das vezes, um fardo. Algo que atrapalha a liberdade de escolha, uma responsabilidade incômoda. Mesmo que não estejamos conscientes disso, na maior parte do tempo estamos mais empenhados em “distrair” a criança para que ela não nos “atrapalhe”, do que dedicados a uma criação adequada, que exige atenção, cuidado, zêlo e, principalmente, tempo de qualidade.

Como podemos, então, evitar que a infância atual seja prejudicada - talvez de forma irreversível - pelo tipo de mundo que conscientemente construímos e escolhemos para viver? Para saber mais sobre como construir um mundo verdadeiramente adequado para nossos filhos, não deixe de ler a segunda parte deste artigo, na próxima semana!

 

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