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Datas comemorativas: Páscoa

Montessori

“A imaginação é a verdadeira substância da inteligência" - Maria Montessori

Nas culturas ocidentais, a Páscoa é uma data amplamente comemorada. Nessa época, os educadores montessorianos costumam receber muitos questionamentos e dúvidas sobre como abordamos o tema dentro de nossa metodologia. Talvez a mais frequente das dúvidas seja relativa ao modo como vemos os componente de fantasia, a distorção do propósito inicial e o estímulo ao consumismo presente em grande parte dessas datas, em especial o Natal e a Páscoa. Como lidamos com elas?

 

Montessori defendia a realidade como a base para o desenvolvimento da imaginação. A imaginação e a criatividade são, na visão montessoriana, frutos da percepção do mundo real - uma extensão do raciocínio lógico e da capacidade de observação. Como educadores, concordamos integralmente com essa ideia, e por isso somos muito conscientes da importância de observar os princípios nela contidos. Nosso papel é, em um primeiro momento, guiar a criança na compreensão da realidade, na organização do mundo em categorias mentais. Por isso, nossa metodologia de ensino faz uma distinção muito clara entre a imaginação e a fantasia, evitando a exposição de alunos da primeira infância a esta última (os maiores de seis anos já começam a perceber a distinção entre real e imaginário). Temos o cuidado de trazer percepções do real e, assim, refletindo quanto ao significado de cada data convidamos ao aprendizado e a reflexão -  não é a toa que as chamamos de datas reflexivas. Em uma escola laica, temos diferentes famílias, com diferentes religiões e visões de mundo. Nosso maior objetivo é trabalhar a coletividade, para que as crianças entendam que cada um tem sua forma de comemorar. 

 

Isso significa que somos contrários a comemorações e às tradições? É claro que não. Respeitamos os valores das famílias, que são protagonistas da educação tanto quanto educadores e alunos. Também compreendemos a importância da cultura - algo que nos define enquanto seres pensantes - e, acima de tudo, da diversidade.

 

Em uma grande parte das escolas, datas comemorativas são trabalhadas de maneira pouco crítica e bastante padronizada. Ao fazê-lo, acabam por se distanciar do verdadeiro papel da escola, que está longe de ser a simples reprodução do discurso vigente, que mais das vezes estimula o preconceito, a visão simplista, o consumismo... A visão de uma escola em consonância com seu próprio tempo deve passar, sempre, pela questão fundamental:  Quem queremos formar? No nosso caso, a resposta é clara: nosso desejo é formar cidadãos críticos, que exerçam sua participação como sujeitos históricos conscientes de que estão construindo um processo do qual dependerá o futuro do planeta. 

 

Montessori, no primeiro capítulo de seu livro "A educação e a paz", dirá que "A ideia errônea segundo a qual o adulto deve fazer a criança entrar no molde desejado pela sociedade continua a reinar". Nós, os herdeiros de seu legado, sabemos bem que ainda hoje esta afirmação, infelizmente, é verdadeira. Por isso, é nossa responsabilidade fazer com que ela deixe de fazer sentido. É preciso repensar a forma como comemoramos, e transformar a comemoração em um momento não só para celebrar, mas também para refletir e aprender. E  a escola é, por excelência, é um espaço de transformação, de criticidade e de reflexão. 

 

Com datas religiosas, como a Páscoa, o cuidado deve ser ainda maior.  Trata-se de um feriado cristão, e em nossa escola temos diversas famílias com diferentes religiões e todos são parte de nossa comunidade. Acreditamos que as semelhanças que os unem são mais fortes que os detalhes das diferenças que os separam.

 

Também há, como sempre, a questão cultural, que além do viés da hegemonia da cultura ocidental, também precisa ser vista com os olhos do respeito à tradição dos povos. A Páscoa é uma data significativa para cristãos e judeus, e não pode, assim como as datas celebradas por outras culturas, ser comemorada de forma superficial e estereotipada. Assim como não faz sentido comemorar o Dia da Mulher entregando uma rosa de papel sem discutir a opressão da mulher na nossa sociedade; não faz sentido comemorar a Páscoa se o fazemos apenas vestindo orelhas de coelho e comendo ovos de chocolate, esvaziando todo seu significado.